O militarismo é um tema bastante comum no cinema. Além de
haver uma vertente especialmente para o caso (os chamados “filmes de guerra”), o
argumento também está presente em quaisquer gêneros de filmes, sejam eles
ambientados em épocas de conflitos, ou apenas com personagens militares. A
mescla da sétima arte com o militarismo rendeu grandes obras, como “O
Pianista”, “Caçadores de Obras Primas”, “O Leitor”, entre muitas outras.
Mas a história nos mostra que fora das telas o militarismo sempre foi um inimigo
da intelectualidade. Durante o auge do expressionismo, muitas obras foram
destruídas pelo nazismo. Na União Soviétiva, a era Stalin reprimiu todos os
movimentos artísticos que não fossem baseados no “realismo socialista”.
No Brasil não foi diferente. No período em que o país esteve sob um regime
militar (1964 á 1985), toda e qualquer obra artística (musical, literária, cênica, etc) que fosse considerada imprópria pelo governo, era censurada, e
seus autores sofriam duras represálias, muitos sendo exilados ou presos.
Mas como já vimos aqui mesmo neste recinto, os momentos de crise acabam sendo
um incentivo para a criatividade, e neste caso, um grande desafio para a arte
brasileira. A produção artística não parou, mas seus criadores se viram
obrigados a optar entre dois caminhos: obras com mensagens disfarçadas, ou
obras clandestinas.
Neste post, falarei a respeito da arte
clandestina brasileira, mais precisamente sobre o cinema, que ficou conhecido
como Cinema Marginal.
Como forma de resistência ao moralismo e ao otimismo cego pregado pelas
propagandas militares, alguns cineastas decidiram dar ênfase a “anticultura”
brasileira, retratando tudo aquilo que era rejeitado pelos padrões sociais da
época, como prostitutas, drogados, criminosos, promiscuidade, travestis, etc.
Também haviam diversas críticas sociais; ao populismo carnavalesco; a censura;
e aos padrões cinematográficos.
Houveram exemplos de filmes marginais nos mais diversos movimentos, como o
Tropicalismo e o Cinema Novo, e também nos filmes de terror de José Mojica, por
isso, o Cinema Marginal não foi considerado um movimento de fato, embora
tivesse aspectos únicos como as histórias grotescas e absurdas em produções de
baixo custo, personagens estranhos, anti heróis da realidade brasileira, e principalmente,
o desprezo pelo “bom gosto”.
O precursor de tudo isso foi Ozualdo Candeias, que trouxe com
seu filme de estréia “A Margem”, 1967, a inovação da composição baseada na
visão da câmera, ao invés da tradicional cena emoldurada.
A Margem, de Ozualdo Candeias - 1967 |
Rogério Sganzerla veio em seguida transformando um dos
maiores criminosos da história deste país em um ícone, naquele que foi um dos
maiores filmes da história do cinema nacional de modo geral.
O Bandido da Luz Vermelha, de Rogério Sganzerla - 1969 |
Algumas das obras mais marcantes:
Agonia, de Júlio Bressane - 1978 |
Matou a Família e Foi ao Cinema, de Júlio Bressane - 1969 |
Bang Bang, de Andrea Tonacci - 1971 |
Ritual de Sádicos, de José Mojica - 1969 |
Poderia uma das maiores fases do cinema nacional ter surgido
de forma despretensiosa? Candeias resolveu fazer experimentalismos, e acabou
influenciando toda uma leva de marginais
que não tinham maiores pretensões além da pura e simples avacalhação.
Um marco na história da cultura nacional.
Um marco na história da cultura nacional.
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